segunda-feira, novembro 15, 2010

Sr. Bleaney

Este era o quarto do Sr. Bleaney. Ficou aqui
Todo o tempo que passou na fábrica, até
Que o levaram. Cortinas às flores, finas e puídas,
Caem uns centímetros abaixo do beiral,

Cuja janela mostra uma faixa de terreno construído?
Relva por tratar, lixo. «O Sr. Bleaney
Tomou bem conta do meu jardim.»
Cama, cadeira de espaldar, lâmpada de sessenta watts,

A porta sem cabide. Não há lugar para livros, malas.
«Fico com ele.» Portanto, estou deitado
Onde o Sr. Bleaney se deitava e apago os meus cigarros
No mesmo pires evocativo, tento

Encher os ouvidos de algodão, para abafar
O ruído incessante do rádio que ele a consumiu para comprar.
Conheço os seus hábitos – a que horas descia,
Que preferia um molho a outro, por que razão

Labutava com denodo nas quatro linhas –
Cercadura exacta como um ano: a gente de Frinton
Que o recebia nas férias de Verão,
O Natal na casa da irmã, em Stoke.

Mas se ele se punha a observar o vento frio
A descompor as nuvens, ou se deitava no mofo da cama,
Dizendo-se que estava em casa, sorriso rasgado,
Tremendo, sem conseguir afastar o temor:

O modo como vivemos revela a nossa natureza,
E, com a idade dele, sem nada, a não ser
Um caixote arrendado, isso devia assegurar-lhe
Que não precisava de mais. Não sei.

- Philip Larkin
(tradução de Hugo Pinto Santos)

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