quinta-feira, novembro 11, 2010

Mimetismo

O nome. Procurava nomes e sentia-me infeliz. O nome: valor fora do tempo, e de larga experiência.
Só os há para os pintores no primeiro contacto com o estrangeiro; o desenho, a cor, que todo tão imediato! Esse borrão de não se sabe o quê sabemos que se chama natureza, mas quanto a objectos nada, nada de nada. Só depois de exames de pormenor muito ponderados, decidido um ponto de vista, é que se chega ao nome. Um nome é um objecto a desprender.
Ter de desprendê-los.
Ao passo que os pintores (refiro-me aos fiéis copistas das coisas exteriores), são pessoas que se encontram de bem com a Natureza e o seu mimetismo.
Ouça-se o público num salão de pintura. De súbito, depois de haver insistentemente procurado, alguém aponta o dedo para o quadro e diz: "É uma macieira". Sentimo-lo aliviado.
Desprendeu uma macieira da pintura! Eis um homem feliz.

- Henri Michaux
(tradução de Ernesto Sampaio)
in Equador, Fenda

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