terça-feira, novembro 16, 2010

Frente a frente

Para o Nuno Júdice

Em toda a parte
frente a frente eis-te com o tempo

e frente a frente
com o vento do tempo vagabundo
despertando
entre líquenes e musgos
o rio tremendo
das grandes praias vazas

ou o que pulsa
égua a égua dos pântanos
nas noites que se matam

De novo aos pés dos juncos
da tua cama paira o mundo

e o vento paira
no tempo como um obscuro
fruto de água alada
onde em si própria
a cada pássaro
a face da divindade se estilhaça

pois face a face
contigo morre porque tal
é todo o tempo como tu
mortal

e como nasces

- Miguel Serras Pereira
in O mar a bordo do último navio, Fenda

Sem comentários: