quinta-feira, outubro 21, 2010

Soneto dum poeta morto

Achado nos seus papéis


Bem sei que hei-de morrer cedo e cansado,
Alguma cousa triste em mim o diz...
E vagarei no mundo, desterrado,
Como o Dante, chorando a Beatriz.

Pelos reinos, irei talvez curvado,
Como um proscrito príncipe infeliz,
Ou como o índio pálido e exilado,
Chorando o vivo azul do seu país.

Mas no entanto, ah! ninguém, ao Sol divino,
Abrasou mais as asas, derretidas
Ante as duras, ferozes multidões.

E ninguém teve a torre d’ouro fino,
Aonde, quais princesas perseguidas,
Morreram minhas doidas ilusões!

- Gomes Leal
in Claridades do Sul, Assírio & Alvim

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