terça-feira, outubro 26, 2010

Emancipei-me no ritual.
Vestira-me a rigor para encontrar no teu corpo o teu melhor.
A minha vaidade residiu sempre neste gesto: nunca desprezei a indumentária,
O momento em que sinto que estou pronto a encontrar-te, para te perder, muito provavelmente (há muito de queda no modo de vestir, existem sombras no teu corpo quando te despes nesta noite de frio).

Lá fora, flores despontavam em polifonia.
Tinham deixado a adoração dos deuses em colectivo;
Abraçavam agora a individualidade
(tudo isto por causa de um programa de Pedro Amaral,
Onde passei a admirar Palestrina, neste meu véu diáfano
Que, de fantasia, terá muito pouco
Apesar da linha canónica de vozes que nunca terão existido
Ou que foram apenas registo em monodia).

E deixo-te, leitor, neste encontro ou desencontro.
Não sei se escutaste o que eu disse. Não sei se ouvi
O teu sussurro no cerejal ou quando procuras adubar os campos
Com os Nitratos do Chile, que compraste na loja que já não existe.

Falaremos mais tarde, se quiseres, do resultado das colheitas.
Por agora, deixo-te com a música
Ou seja, queria muito que te revelasses,
Que fosses como as plantas que despontam do anonimato para a autoria
Para serem, mais tarde, aquilo que tiverem de ser:

Flores violentas,

Rosas aveludadas.

Uma qualquer coisa neste grito chamado Mundo.

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