E as palavras correm sobre os lábios.
Lábios dizem a palavra "boca".
E a boca é um esquife de água.
A boca é uma clausura de saliva.
Um palacete de tomilho.
As palavras lavam a língua,
dando nome a sonos ou a estrondos.
A bicicleta entrou pelo celeiro
manchada por um toque de vermelho.
A casa é invadida
por carradas de papoilas.
Quem transporta os espelhos
de um quarto vazio
para outro quarto vazio?
Quem desenterra a salamandra?
Duas raparigas sob a neve.
Caramanchão de leve trovoada
à sombra da glicínia em flor.
O vazio debaixo das palavras.
Belo abismo com que me deleito.
Haverá outros lábios sob os meus?
Resvala pelo meu braço adentro.
Um braço de ferro que me petrifica
o gesto e o coração.
E é o afluxo poeirento
desse infame silêncio.
- Jacques Izoard
(tradução colectiva - Poetas em Mateus)
in Jardins mínimos e outros poemas, Quetzal - 1994
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