quinta-feira, junho 10, 2010

Catatuas negras

Cada género específico de tempo ou de luz
tem as suas criaturas. Elas esperam algures,
como se habitassem apenas o calor ou o frio,
o crepúsculo ou a madrugada e não conhecessem outro estado.
Depois, no tempo certo chegam, tímidas ou determinadas.

Assim, quando os grandes ventos áridos, ásperos como lixa,
se acalmaram, e o tempo mudou e vieram as nuvens
e outras aves se calaram em oração ou medo,
estas conheceram a sua hora. Antes que o primeiro clarão longínquo
se acendesse, ou o primeiro trovão pronunciasse o nome,
chegaram em voo cerrado, até que eu pude ouvir
as catatuas negras selvagens, sacudidas no cimo
das suas altas árvores, gritando o desassossego do mundo.

- Judith Wright
(tradução de José Alberto Oliveira)
in Animal Animal, Assírio & Alvim

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