quarta-feira, junho 23, 2010

Bucólica

Doente, nada tenho de bucólico
para fazer.
Telefono. Telefono e abro
uma janela sobre o campo.
A máquina, os fios, a vibração
do som e o disco de grafite:
Uma janela aberta para o campo.
Nos fios, em fiapos, ondula
a brisa,
pousam aves
e correm gotas de chuva.
Do alto dos fios vê-se a rua,
o passeio e a copa das árvores
sob um ângulo engraçado.
Estrangulada nos fios
a minha voz.
Nela pousam os pássaros,
agita-se o vento e corre a chuva.
Chega ao outro lado embebida
de sonhos, sol e azul.
Doente, o telefone janela aberta,
não sei porquê...

- Rui Knopfli
in Memória consentida (poesia 1959/1979),
Biblioteca de Autores Portugueses

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