domingo, maio 02, 2010

A Toalha

É mais ou menos isto:

O encontro com o eco.
Crianças felizes
À beira do mundo
Numa esfera feita de encontros e mesas de café.
Papoilas em Dezembro
E as migrações absurdas das andorinhas que pousam cachos de uvas na sepultura de um amor perdido.

A vida, sempre a vida e sempre o seu avesso.

Um pano rasgado e a toalha que é limpa na varanda
Enquanto o teu olhar percorre os beirais, um traço de nuvens, o movimento das migalhas entregues ao vento e ao
que faz falta
Do pão que não existe.

Um traço a carvão do meu retrato.
A tua generosidade em criar ângulos onde a luz não incide
(O sol prefere as esquinas deste bairro e os barcos estrangeiros a inaugurarem novas Primaveras).


Cheguei ao lugar de hoje
Ouço uma música que me faz lembrar um amor chamado verdadeiro.
Sei que é verdadeiro porque as notas musicais estão de acordo com gestos perdidos, com o modo como a toalha é arrumada e liberta de migalhas, de outros corpos.

Eu sempre quis isso - ou é isso que vou querendo na vida, sem saber - uma simples toalha que possa ser limpa

E alguém que a suje.

2 comentários:

Patrícia Baltazar disse...

Muito, muito bonito.

Não resisti.

QZ disse...

É bom ter alguém na vida que suje a toalha :)