sexta-feira, abril 09, 2010

Manobras de Maio

Lisboa, anos noventa.

Os pombos dormem.
Os últimos barcos partiram para Cacilhas.

Reconheço nas chaminés da margem sul os restos de uma laboração.
Foi o fim de um sonho controlado por outros.
Na terra ficaram os lameiros.
Aqui, só o Tejo responde a todas as evidências.

Declarada a insolvência, rendo-me. Fujo para ti.

Na última passerele desfilam homens, mulheres
Que tratam por tu o modo de despir esta cidade .
Vieram de todas as margens.
Há nos corpos
Touradas, lendas transmontanas, formas vindas de Versace ou Salazar.

Esqueço, por momentos, essa cidade – sombria, de paredes sem estuque
De estrangeiros que chegam ao Cais do Sodré
E perguntam pela bifana ou pela saia mais curta.

É noite.

Talvez me sinta só.

Talvez a beleza não seja assim tão
Prazenteira.

Ao longe, as chaminés da margem sul
Dizem que podíamos ter partido, para regressarmos a outro lugar
Onde a paisagem é invariavelmente

A última Moda.

1 comentário:

João A. Quadrado disse...

[ e eu por esses tempos, no Caís do Ginjal... talvez um fino e dois tremoços!
Aí, Zap Canal, anos noventa bem medidos...]

um imenso abraço, Rui

Leonardo B.