Lisboa, anos noventa.
Os pombos dormem.
Os últimos barcos partiram para Cacilhas.
Reconheço nas chaminés da margem sul os restos de uma laboração.
Foi o fim de um sonho controlado por outros.
Na terra ficaram os lameiros.
Aqui, só o Tejo responde a todas as evidências.
Declarada a insolvência, rendo-me. Fujo para ti.
Na última passerele desfilam homens, mulheres
Que tratam por tu o modo de despir esta cidade .
Vieram de todas as margens.
Há nos corpos
Touradas, lendas transmontanas, formas vindas de Versace ou Salazar.
Esqueço, por momentos, essa cidade – sombria, de paredes sem estuque
De estrangeiros que chegam ao Cais do Sodré
E perguntam pela bifana ou pela saia mais curta.
É noite.
Talvez me sinta só.
Talvez a beleza não seja assim tão
Prazenteira.
Ao longe, as chaminés da margem sul
Dizem que podíamos ter partido, para regressarmos a outro lugar
Onde a paisagem é invariavelmente
A última Moda.
1 comentário:
[ e eu por esses tempos, no Caís do Ginjal... talvez um fino e dois tremoços!
Aí, Zap Canal, anos noventa bem medidos...]
um imenso abraço, Rui
Leonardo B.
Enviar um comentário