na espiral de fumo que sobe pelo ar.
Telha a telha, sobre o hálito das casas,
inscrever o mundo, uma floração tardia,
um dote para quem entra em cena,
aventurando na chuva a cabeça,
e vai chamando pelas coisas uma a uma.
O lápis obediente à lei muda da minha mão
incrusta no buraco da fechadura a moeda,
o bilhete de ingresso para o bulício de outra vida.
O seu registo de voz aprende a dizer a falta,
vendo correr no relógio de areia o tempo,
a esmola dos momentos em que estamos,
ele ou eu, na linha de tiro. A alma de um retrato,
amarelecendo a noite suspensa no papel,
despe com o olhar o magro corpo da cidade,
desenha um ladrilho de sombras pelo chão.
Ungindo a hora de presságios, em si congrega,
até à cerca de arame farpado que faz a fronteira
do meu ser, um gesto de adeus, uma arte da memória.
- Paulo Teixeira
in Descanso na fuga para o Egipto, Caminho
Sem comentários:
Enviar um comentário