sexta-feira, abril 09, 2010

(dos destroços imensos)



e bocas queimadas. é o que recordo
dos nossos acidentes domésticos.
para não desprender a fala do erro
seguíamos conjugando os verbos certos
no tempo errado e adormecíamos
com o cansaço crescendo daninho
nas bocas abertas de espanto. então
as manhãs iniciavam-se estrangeiras
e o amor inclinava-se perigosamente
sobre o parapeito da janela. o fim
era apenas um electrodoméstico
avariado: funcionaria um dia. porque
sobreviver é florir sobre a carne morta
mas exige-se ao músculo que desista.

- Pedro Jordão

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