quinta-feira, março 11, 2010

Tramontana em Lerici

Hoje, deixasse alguém cair um copo de vidro e
_Ele desintegrar-se-ia, deflagrando com tal intensidade
Contra a ressonância do frio (os sons
_Duros, separados e distintos, distanciando-se
Em cadência decrescente) que se juraria
_Tratar-se da imitação de vidro a quebrar-se.

Nas folhas acentuam-se os matizes. Estimuladas por esta
________________________________claridade
_As mentes dos artífices tornar-se-iam prismáticas,
Arrebatadas por rendas de arestas afiadas,
_Cortantes como aço. Constituições
Esboçadas sob este frio fecundo, seriam anuladas
_Pelo rigor da sua equidade, pela moderação da sua piedade.

Ao entardecer somos perturbados pela definição
_De tantos tons de verde quantos tentamos vislumbrar,
Quantos ainda a própria paisagem,
_Absorvida pela firme obscuridade, condensa
Desde o verde-mar até esse lento anil escuro
_Onde a luz e o crepúsculo se abandonam.

E o frio aumenta. Aqui, neste ar
_Impróprio para políticos e românticos,
O escuro consolida-se do azul, e apaga as janelas:
_Um bloco tangível, recusará ser acessório
Do que lhe não disser respeito. Somos ignorados
_Por tanto frio suspenso em tanta noite.

- Charles Tomlinson
(Tradução de Gualter Cunha)
in Poemas, Cotovia

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