terça-feira, março 16, 2010


Chegam quase sempre em fins de Agosto
com bolsas de estudo da Gulbenkian.
Depois de cumprimentos nas Revistas
e a um ou outro de administração
passam aos quiosques da Cultura
na mira de novos subsídios.
De seguida à imprensa de Regime
atordoados de hipóteses de prelo.
Por todo o lado deixam a promessa
de os traduzir na volta do correio
aos poetas nos bons pousos sitiados.
Partem depois para os telefones
arrumados por geração. Até há pouco
findavam na 68. Agora já ronronam
a um punhado da 74. Em setembro
jantam em casa de cada disponível
e tentam insinuar que também são
dados às musas, se não a todas
pelo menos às mais viáveis.

O projecto em fundilho é a difusão
duma poesia tão! injustamente esquecida.
Quer dizer, bolsa de estudo com refeições pagas,
livros à borla que todos lhes mandam
e lá na terra mais uma entrada no currículo
de terceira. Pois os de segunda fincam-se
em países de melhor capitalismo.
E os de primeira, suposta já se vê,
têm há muito cátedra segura.

- Joaquim Manuel Magalhães
in Alguns livros reunidos, Contexto

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