terça-feira, março 16, 2010


Alugando pássaros, pedaços de pele, povoados,
Que busco eu, alheio ao sossego e à esteira?
Em ondas de ternura bebo afogados
Séculos de murmúrio, ajoelhado na areia.

Que piolho eu beberia noutro rio marata?
– Copo de oiro sem voz, flores de gás, céu alvar! –
Beber por calabaças, fora da minha cubata?
Só se for licor que a terra faz ao mar.

Ergui minha choupana em foz daninha.
– Rosa de areia! Sangue! Jubileus!
A água do rio levou-me oiro e vinha,
(Nos lameiros, passava a mão de Deus)

E eu chorava, eu via – oiros! – nunca sereis meus!

- Jean-Arthur Rimbaud / Mário Cesariny
in Uma grande razão, Assírio & Alvim

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