segunda-feira, março 15, 2010

a casa poderia ser a língua
onde habitaste onde as mulheres perpassam
com domésticos dizeres e as mães oferecem a cabeça
dócil às ciladas de édipo mas não
os teus haveres não se conformam na moldura do poema
o estilo é pouco e magras as certezas que passeias quando
o rapazio te apedreja o sonho helénico e
doente ignoras o interior da casa
o teu pensar desarrumado a viajar nos arredores
ou mesmo dentro à sombra da verdade em que não crês
olhando da janela o teu passado a que chamaram lúcido
e sorrindo respirando o hálito dos deuses
mortos sem um nome que os abrigue
enquanto o corpo te vagueia ainda
pelas veias mas o rosto
o rosto inclina-se pesado sobre o peito como a porta
para a casa não é hörlderlin
é um livro que se fecha

- Diogo Pires Aurélio
in A herança de Hörlderlin, Assírio & Alvim

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