são os piores de todos nós.
Já alguma vez viste, por exemplo,
um poeta de dedo em riste
a escorraçar Deus da sua vida?
O dedo é um ceptro,
escorre autoridade.
Terminado o esconjuro,
o poeta sacode-se do pó
da debandada de Deus
assim como quem diz
"este já está, venha o seguinte",
convencido de que não há seguinte.
Mas há seguinte, e vem.
E reata-se a espiral do entremez.
Rectifico: os poetas, tigres de papel,
não são os piores de todos nós.
Serão talvez
os que mais se amotinam,
os que mais armadilham as palavras —
mas isso come Deus todos os dias
ao pequeno-almoço.
- A.M. Pires Cabral
in As Têmporas da Cinza, Cotovia
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