para o meu avô
Nunca mais me irás interromper
ao comentar uma passagem do de Legibus de Francisco Suárez,
mas, por agora, a nuvem castanha que te ocupa
o peito sufoca-me a voz.
As nossas leis não chegam para acalmar todos os vícios
e o pior de todos é chorar-te
por não te poder dizer, seguindo Castro, seguindo Suárez,
que nenhum poder pertence a um só homem,
mesmo a um com umas mãos como as tuas
capazes de me virar as costuras aos olhos.
O teu pacto, se é que me diz respeito, chegou invisível,
insípido a escoar entre portas, sem nunca refazer
o fio bruto que nos chegou a prender um ao outro, homem a homem.
Deve ser por causa do sangue, com certeza,
que acentua a intelectualidade da questão,
tal como na poesia, tens de concordar, muito embora
nunca tenhamos entre os dois
esboçado mais que um par de incompreensões a propósito disto.
É uma pena que não possas ver o teu próprio rosto de mármore.
Quase comoves
sorrindo, como todos nós, ao abandono.
1 comentário:
Que fantástica surpresa, David, descobrir que esse sorriso tímido escondia uma tão grande alma de poeta!
Adorei
A vizinha c/cães :-))))
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