O velho…
Enfrentou as escadas e ficou ofegante.
Muito alta, muito íngreme, muitos degraus…
Muitos pecados tem uma vida que conta todos aqueles degraus.
Não se sentia com fôlego.
Não criava coragem.
Olhou de novo.
Era muita escada; muito degrau.
Tentou contar; perdeu-se na conta.
Contou em grupos de dez; perdeu-lhes a conta.
Descansou.
Deitou o peso do corpo sobre uma perna.
Pensou… se descansar uma perna, essa pode ir à frente.
Mas a perna que suportava o peso gemeu com a ideia.
A cabeça pensou em sentá-lo mas as costas proibiram-lhe o movimento.
Como é que voltaria a pôr-se de pé a partir da baixeza do chão.
Muito baixos os degraus para servirem de banco.
Muito alta a escada…
Agarrou o corrimão e atreveu um pé.
Balançou o corpo para a frente num movimento rígido de articulações com artroses.
E o degrau cresceu, subiu, fez-se muro.
Tropeçou-lhe o pé.
Valeu-lhe o corrimão com que se fundiu a sua mão; dedos enclavinhados a lutarem pela posição de homem: de pé!
Olhou de novo aquele degrau tão alto.
Olhou a escada.
Muito grande a escada; muito degrau.
Com gritos e risos numa corrida desenfreada três rapazotes saltaram a escada de três em três.
Galgaram a escada.
Ganharam a escada.
O velho emprestou-lhes a sua alma e viu-se moço a atacar outras escadas. Íngremes, mal cortadas nas terras; a resvalar de pedras, húmidas de erva lavada de orvalho.
Puxou o lenço; limpou o suor
Virou as costas e seguiu a rua.
Melhor ir à volta.
____________
Texto rápido: o assalto
Foi um estampido a abafar o rugir da ordem: O dinheiro para cá! Rápido!
E o tiro a partir, o sangue a correr, ainda antes da palavra se calar.
Já sabes? Perguntavam no outro dia na rua.
Quem morreu?
- Autor desconhecido
Sem comentários:
Enviar um comentário