E por mais submisso que ele seja
não ates o teu cão a um fio de seda.
Não corrijas a História com o teu juízo abstracto.
Nenhum morto voltou para acabar as palavras.
Elas saberão acabar contigo quando lá chegares.
Não tentes o perverso com outra perversidade
que não seja a tua. Nenhuma lâmina será
igual a outra lâmina. Nem nenhum cordeiro.
Não digas desta água nunca ninguém bebeu.
A água é sempre a mesma. As bocas sim
é que são diversas.
Não cuides do mercado infeccioso das almas.
A peste é infinita. Só é breve o teu tempo.
Não procures no olhar do gato a indiferença.
Passa-lhe a mão pelo pêlo e depois chora.
Não digas que o teu pai não te conhece.
Pergunta-lhe primeiro se alguma vez
se conheceu.
Não rias em frente duma máquina.
Só Deus sabe qual é o mais ridículo.
Não saias da tua casa à procura do mundo.
Ele já te conhecia e não te veio procurar.
Não dances com o Rei a pensar na Rainha.
A Corte tem ouvidos dentro do teu cérebro.
Não penses no dilúvio universal.
Pensa no teu e aprende a nadar em vão.
- Armando Silva Carvalho
in O que foi passado a limpo, Assírio & Alvim
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