"(...)
- O pai mata-te. O pai mata-te - repetiu ela.
Mas eu nem a ouvia. Estava a pensar noutra coisa, uma coisa estúpida.
- Queres saber o que eu gostaria de ser? Isto é, se pudesse escolher?
- O quê?
- Conheces aquele poema: Quando Duas Pessoas Se Encontram no Centeio. É um poema de Robert Burns.
- Eu sei que é um poema de Robert Burns - respondi. Mas, é claro, não sabia.- Pensei que era Quando Duas Pessoas Se Procuram no Centeio - disse eu. - Ando sempre a pensar em dois miúdos que brincam num grande campo de centeio, ou, melhor, milhares de miúdos, e não há por ali uma única pessoa crescida a não ser eu. E eu estou mesmo à beira de um grande precipício. O que tenho a fazer é agarrar os miúdos que estão já à beira do precipício, isto é, quando estão distraídos e andam a correr por ali. É nessa altura que eu apareço para os salvar. Gostava de fazer isso o dia inteiro. Seria apenas o vigia do campo de centeio. Sei que é uma parvoíce, mas seria a única coisa que me agradaria. Mas sei que é uma parvoíce.
Phoebe nada disse durante algum tempo. Depois apenas repetiu:
- O pai mata-te.
(...)"
(Este é um dos muitos excertos sublinhados no meu Uma Agulha no Palheiro, na tradução de João Palma-Ferreira, Livros do Brasil, Lisboa, edição datada de 1999, pp. 195-196. E eu nem tenho o hábito de sublinhar livros...
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