Oniros (exercício)
“A função da crítica devia ser mostrar como é o que é, ou mesmo que é o que é, em vez de mostrar o que significa. Em vez de uma hermenêutica precisamos de uma erótica da arte.”
Susan Sontag
1
é como se fosse uma viagem,
a aorta aberta por detrás
da boca
as cerejas adormecidas atrás do sono
os nomes
noites sem cúpula, e,
sem face também a música
e a imagem, também,
a leira de cinza lavrada a zelo e luto
(ah) solene naco de babel (ter apenas)
(e depois) o éter no peito
o interlúdio a despeito da árvore
o esto mineral
o tom de ser o estilo
linguagem
toda a terra sem sal
imune ao luto,
e ao pavor
mas) a noite é sempre uma coisa sem nome em redor
e toda a teogonia é púrpura, contra-hermenêutica
bússola sem norte dentro do sangue, e depois, as imagens
érebo com o anel na garganta,
e as décadas, como as árvores
caídas
sempre tardias
ao pé da estátua cor de cobre
2
um motivo contorna o sono e a deriva da letra
a fera ânsia de ser
pessoa nome
todo o tártaro
sem rosto,
(o inferno é apenas um trejeito de estilo)
o espaço é sempre mais nobre
que o caminho
3
nada como ser vertical sobre a água
e semear cinza, como os patriarcas sem nome
sem esperar nada do mundo
a não ser
perséfone estéril por delicadeza
a circunscrever o hades na leira heliotrópica
e a pôr o ovo no centro da mesa
4
todo o lirismo é coisa de vime
é sempre o declive mineral
das portas
e depois a,
a boca sitiada de neve
com o corpo pedaço negro todo em volta
os nomes são coisas minerais
coisas que nunca se dizem,
sem
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