terça-feira, janeiro 26, 2010

1

Oniros (exercício)
“A função da crítica devia ser mostrar como é o que é, ou mesmo que é o que é, em vez de mostrar o que significa. Em vez de uma hermenêutica precisamos de uma erótica da arte.”
Susan Sontag

1
é como se fosse uma viagem,
a aorta aberta por detrás
da boca

as cerejas adormecidas atrás do sono

os nomes
noites sem cúpula, e,
sem face também a música

e a imagem, também,
a leira de cinza lavrada a zelo e luto

(ah) solene naco de babel (ter apenas)
(e depois) o éter no peito

o interlúdio a despeito da árvore

o esto mineral
o tom de ser o estilo
linguagem
toda a terra sem sal
imune ao luto,
e ao pavor

mas) a noite é sempre uma coisa sem nome em redor
e toda a teogonia é púrpura, contra-hermenêutica
bússola sem norte dentro do sangue, e depois, as imagens

érebo com o anel na garganta,

e as décadas, como as árvores
caídas
sempre tardias

ao pé da estátua cor de cobre

2

um motivo contorna o sono e a deriva da letra

a fera ânsia de ser
pessoa nome

todo o tártaro
sem rosto,

(o inferno é apenas um trejeito de estilo)

o espaço é sempre mais nobre
que o caminho

3
nada como ser vertical sobre a água
e semear cinza, como os patriarcas sem nome

sem esperar nada do mundo
a não ser

perséfone estéril por delicadeza

a circunscrever o hades na leira heliotrópica
e a pôr o ovo no centro da mesa

4
todo o lirismo é coisa de vime

é sempre o declive mineral
das portas
e depois a,
a boca sitiada de neve
com o corpo pedaço negro todo em volta

os nomes são coisas minerais
coisas que nunca se dizem,
sem

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