«Se queres falar de portas, falta-te aqui uma coisa: as quatro portas a abrir em linha quando Gregory Peck e Ingrid Bergman se aproximam num dos beijos mais extraordinários do cinema». Quando eles ainda não stão juntos no mesmo plano e se olham, um pouco antes, em campo e contra-campo, a câmara já muito perto. É então que Hitchcock abre porta atrás de porta, naquele movimento contínuo de certos filmes que aceleram a vida das plantas para as vermos nascer e abrir, e abrir mais, mas não morrer (se bem que já só pensemos na morte), tudo em escassos segundos.
Abro aqui outra vez essas quatro portas, como nos filmes que precipitam as coisas vivas. Folhas nascem e abrem) e abrem) e abrem) – porta atrás de porta, uma, duas, três, as quatro pétalas dessa flor acelerada. Eles aproximam-se, estão agora muito perto, dentro do mesmo plano, e vão beijar-se (enquanto a morte continua fora de cena).- Rosa Maria Martelo
in A Porta de Duchamp, Averno, 2009
terça-feira, dezembro 29, 2009
Filme
Separador:
poesia de fora
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário