ante seu próprio cadáver estendido na mesa,
pensei: Todo o poema é um rio que passa,
água escura e distinta que não se deixa apressar.
O nadador que se adentra na corrente
ingressa na seita dos espelhos, rompe
a claridade do poema deixando um espaço,
o molde horizontal de um anjo despercebido.
Então penso em Jeff Bucley perdido
na digestão do Mississippi, penso em Li-Po
abraçado ao diadema da água, em Paul Celan
a andar pelo fundo do Sena, a entrar
na catedral dos dias azuis. Eles foram
o poema e eles a pedra, o ponto final.
E enquanto a música baixa deixando-me
um anjo entre os lábios, sem som digo-me:
Sou à vez o afogado e meu único médico-legista.
Afundo os braços na água deste poema.
Busco para ti a palavra peixe com as mãos
mas a espinha de um fantasma é tudo o que pesco.
- Jesús Jiménez Domínguez
in Fundido en Negro
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