sexta-feira, novembro 20, 2009

Mandala

O vento e eu, delgados os dois,
rivalizamos em achados e desaparições:
enquanto ele desordena a sintaxe alada do teu cabelo
e arrisca uma frase difícil depois de penteá-lo,
também eu sopro em ti para soltar do teu olho
um grão de areia ou a promessa de um deserto.
E nessa sílaba de praia que voa
está o início de todos os caminhos,
a caligrafia insone das gaivotas,
o teu gesto maquinal ao agitar a toalha
como se quisesses desprender
o significado do próprio objecto,
e está o fim do Verão com o que restou
de todas as carícias e todos os naufrágios.

- Jesús Jiménez Domínguez
in Fundido en Negro

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