terça-feira, outubro 06, 2009

Desfigurados

Gosto tanto destes exercícios vampirescos, levianos e fúteis. Acho realmente espantoso como podem ser citados doze autores (Roland Barthes, Maurice Blanchot, Graça Capinha, George Elliot, Vilém Flusser, Michel Foucault, Martin Heidegger, Edmund Husserl, Immanuel Kant, Vladimir Maiakóvski, Jean Luc Nancy e Ezra Pound) num texto desde logo não muito extenso, que surge por ocasião (ou se aproveita) da apresentação de um livro de um jovem poeta, afirmando entre parêntesis mas de forma não menos contundente que se trata de um poeta com uma obra singular no panorama actual da poesia - não sei se nacional ou internacional (por esta altura também isso já não nos interessa). Um texto que consegue chegar ao fim sem nunca nos oferecer um único verso do autor que se liberte da canga, do embrulho de recortes e referências coladas com muito cuspo, um só verso sopesado numa leitura que nos desse a chance de acreditarmos que poderíamos estar diante de algo novo (ou relevante) nesta poesia, em vez de um esforço quase ridículo para a comprometer com uma qualquer tradição, como se a melhor estratégia para dar a conhecer um livro de poemas fosse inseri-lo num programa e sujeitá-lo a esta febre comum entre aqueles que se socorrem da autoridade de terceiros talvez por viverem inseguros com a sua, quase como se lhes fosse mais fácil atribuir a autoria dos seus escritos a outros autores. Eu não quero ser demasiado injusto com alguém que se esforça tanto para ser levado a sério como o Jorge Melícias, mas que está difícil isso está.

2 comentários:

João Moita disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge Melícias disse...

O que é que lhe faz tanta confusão? Ter tentado enquadrar algumas linhas de força de uma poética, socorrendo-me para isso de gente que pensou muito bem sobre o assunto? Ou ter tentado isso sem recorrer ao uso dos versinhos em marcha de urgência?
Sabe, a mim a leitura tende a emudecer-me, dá-me pouco para tagarelar. Quanto mais leio menos tenho para dizer. Surpreende-me é que isso não aconteça com mais gente. Quanto a seguranças e a certezas deixei-as quase todas na casa dos vintes. Das poucas que ainda guardo permito-me partilhar uma consigo: o dia em que me preocupar com o sr. me levar a sério será o dia em que, forçosamente, deixarei de me levar minimamente a sério.