Era um tio. Era quase um tio. Nunca
tinhas visto e (o que é pior)
não voltarás a ver ninguém assim.
Esquecia-se das levadas, da água
medida e, por isso mesmo, dolorosa.
As bananeiras, de uma maneira ou doutra,
haveriam de crescer felizes e abandonadas
como as crianças que não quis ter.
Tinha andado pelas europas, polícia
sem gosto de prender, convencido de
que a vida não era um argumento válido
(no que tinha, obviamente, uma razão danada).
Depois cegou, morreu, foi sempre
descalço à cidade. Chamar-lhe-ia, se ele
pudesse saber, Cioran das foices.
Mas chegava-lhe o bagaço, uma
sopa, a doce vontade de morrer.
- Manuel de Freitas
Levadas, Assírio & Alvim
segunda-feira, setembro 28, 2009
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poesia de fora
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