quarta-feira, setembro 30, 2009

RACINENEMENT

Sinais dos tempos, caro
Fedro; eis-te comezinho
e reles, sexo duvidoso
como em ti quase tudo
un homme pourri et
qui cherche à pourrir,
dir-se-á talvez, enquanto
com as unhas que Cronos roeu
levantas a caspa do afecto.
Deixa lá a condição suburbana,
a dor fresca, nada altissonante,
bagatelas várias em que
te corrompes rindo.

Hipólito e Arícia, teus
fecundos e imortais comparsas,
injectam-se de felicidade.
Trocaram Rameau por tecno japonês
e já não há poeta no mundo
que salve o enredo, uma vez
que o gordo lenhador do Kremlin
ceifou o último que podia.

Sinais dos tempos, sombrios.
O incesto, cansado de romances,
foi relegado para a telenovela
da tarde. Destino semelhante
ao doce & tirano amor,
constantemente em saldo
num abismo pouco virtual
que o Estado, sozinho, cronometra
(e até Luís XIV era um décent
gentilhomme, comparado
com a plebe que nos governa).

Em suma, meu mongolóide azul,
está tudo dito e redito. Reciclam-se
emoções, a literatura possível.

- Manuel de Freitas

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