sexta-feira, agosto 28, 2009

Inglourious Basterds

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O revisionismo histórico que Tarantino faz neste filme é interessante nesta perspectiva: sendo ficção é falso, mas a partir desse falseamento, assinala uma possível brecha na História – cria, a partir do nada, um não lugar – onde o que retracta poderia ter acontecido. Essa ideia, que vai para além do conceito geral da Utopia, não é inovadora. Há quem o faça em inversão distópica.

É engraçado observar que sessenta e quatro anos após o fim da II Guerra, existem dois tipos de tendência: os que – como Tarantino – reescrevem a História terminando a Guerra prematuramente; e os que, invertem o seu resultado como, por exemplo, Philip K. Dick.

Mais do que pensar ou “falar” da conivência do mundo para com a Guerra, acho que este filme representa, a imensa necessidade que se sente em revisitar a História – alterando-a. Abrindo novos caminhos possíveis – sejam em que direcção for – nas fendas do tempo; explorando as milhares de possibilidades que existiram e que não foram consumadas. O que não aconteceu – o que não teve lugar nem tempo – é agora, o campo perfeito para a alteração efémera da História.

Quando se tenta mostrar a conivência do Mundo – achincalhar as mentes, apontar o dedo, enfiar-lhe à luz do interrogatório bem no meio dos olhos – já se sabe que pouco ou nada se obtém. Os julgamentos da História têm o peso que têm, e pesam muito pouco, porque a História não cessa de ser história. Vive em constante movimento. E, a menos que parássemos também, não a poderemos julgar e condenar.

Pessoalmente prefiro o fim que Tarantino – na farsa ficcional – lhe teria dado. Um fim irónico: Matar Nazis num cinema parisiense, tendo numa uma judia – que escapou do seu destino por mera sorte – o rosto “perfeito” da vingança. O cinema possibilita-o. Possibilita a transformação do passado. Surge como um poder. Um falso poder. Mas que como tudo: é também ele, História.

Beatriz Hierro Lopes

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