quarta-feira, agosto 19, 2009

Evening empire

A respiração contida num último esforço,
imitando o movimento entre as cores e
como a luz algumas vezes se fixa e cansa,
se perde em cada objecto, outras vem
lançada, passa e deixa tudo a meio –
os olhos mal têm onde criar um hábito.

O café trouxe um reforço aos contornos
que a tarde de agosto abandonava. E eu
estava só, com uns versos desses parvos,
sem nada, a apanhar sêcas e escuras bagas
que se desprendiam do silêncio, um pouco
antes de nos encontrarmos.

Para a minha t-shirt branca com duas nódoas,
tinha ela um padrão monótono e flores depois
atiradas sobre o pano cru, com botões enormes
e um bolso rasgado. O forte bronze sazonal
escondia-lhe a breve idade, e entre as mãos
trocava um copo de vinho ou fazia-o demorar
sob a tremida linha da boca.

A noite foi ficando caída naquele terraço,
um bar improvisado e aquela gente toda
que chegava – tão poucas horas depois
seria difícil adivinhar, mas quase ninguém
se conhecia. Veio um gajo, foi buscar outro
ainda, ocuparam-se de nós. Evidentemente
se alguma coisa queriam era com ela.

Fazia calor e deram-nos de uma mistura
doce, que doce ao arrastar-se na garganta.
Uns goles e consegui descobrir a hortelã,
a canela, uma aguardente qualquer. Depois
deixei ir e desisti contente.

Lá nos deixaram e continuámos a falar.
Os olhos dela entretanto pareciam-me mais
crescidos, bailando num tom hesitante,
quase azuis e lentos a acompanhar, como se
me lessem nos lábios só o que queriam.
Obediente à música, desfazia-se se as letras
lho pediam e levantava-se quando vinha
um ritmo mais dançável. Era coisa de
uns vinte, trinta e tal segundos e voltava.

Falámos demais e o interesse morria sempre
antes ou depois do que conseguíamos dizer.
Os dois ali, sentados, e eu só via já essa noite
como uma sombra a atrasar-se sobre os dias
seguintes. Apeteceu-me abrir-lhe as mãos,
deixar-lhes uma ferida, o desenho de uma rua
na manhã que ia nascer.

Sem comentários: