domingo, julho 19, 2009

Nunca poderia ser Bukowski

nunca bebi um whisky inteiro
pelo que não poderia ser como ele
não sei o que se sente na pele de um sedutor
bêbedo, cansado e sujo,
eu teria cortado o cabelo
cheiraria a tangerina
e a minha casa seria branca
repara só no tempo que demorei com um pano
enquanto ele escrevia sem parar
não sou partidária da violação
não me entusiasma
importam-me as mulheres
não só como buraco e latrina
claro que não tenho nada pendurado entre as pernas
ansiando por uma estreita caverna diferente a toda a hora
isso conta bastante
bebo sumos nos bares
às vezes chá
e ao terceiro chá mudo para água mineral
porque me excita em demasia
poderia acontecer alguma coisa e eu não posso arriscar
bem vês
sou medrosa
assustar-me-ia ser como ele
tenho medo dos cães e das noites na rua
não sei vaguear sozinha à procura de sexo
nem sei onde se vendem drogas
nem quanto custam
se por acaso as pudesse pagar
às vezes vejo suspeitos cochichando em grupo
e não me aproximo
como de certeza ele faria
corro na outra direcção
aquela onde estão os bebés
que embalo encantada
conto-lhes histórias inocentes
nada bukowskianas
nunca amanheci cheia de litros de cerveja
e com cuecas com cheiros desconhecidos junto à cara
sempre fodi com um homem de cada vez
sem contar com os fantasmas
sofri mas não me dava para sujar tudo e escrever
antes para chorar
e agora mudo de passeio se vejo que um danado me olha
porque sou cobarde
e porque não me porto mal
jamais existirão os meus melhores textos
posso sim
convidar-vos amanhã para abraços e pão-de-ló

- Mada Alderete
(tradução de LP)

Sem comentários: