Encostei demasiado a cabeça para trás,
parecia estragada quando deixei de lado
o livro e se abriu a violência real,
numa gramática que para mim ficou
impossível. Não sei se ela deu por isso,
mas veio-me com pequenos apontamentos,
a raiz de algum esquema feliz…
A luz ia-se despenhando ilicitamente
e nós parecíamos putos, os dedos
tremiam-me tanto que só depois de três, quatro
tentativas tínhamos um charro com que
chutar para os olhos a cor que ao fim da tarde
sangrava docemente por ali.
Voltou a não ser preciso muito,
com as cervejas que fui buscar, a areia
e os barcos que estavam e não estavam
onde os punhamos. Até houve horizonte
suficiente, mas só muito mais tarde
descreveríamos esse como
um momento de necessária beleza.
Assim, a dois, entregues a uma lisa
hipótese de esquecermos tudo a meio
da semana, bem ao alcance de palavras vazias,
uma conversa sem vertigens, dessas
onde a voz trepida e parece estar
para se acabar. Deu-me para o entusiasmo,
larguei um verso do Manso adaptado a elogio
e ela abriu para o meu preferido,
um sorriso obsceno e de lento desenho,
esperando-me como fazia muito
nos meus dezassete anos.
Mesmo que nunca o ouvisse dela,
era quem mais me lembrava que no fim
o corpo é só o que há,
e fica (ainda) quando vamos e voltamos
desse buraco a que chamamos alma.
Então, sem razões que pudessem com aquilo,
lá nos somámos e subtraímos, as mãos
escuras como as piores
horas do dia e o primeiro beijo
foi um erro, como o segundo. Do resto
não vou falar.
De volta a tudo, ao tempo, ao mundo,
umas frases roucas em espanhol
que vínhamos a ouvir no carro e a noite,
como a queríamos, cantando baixinho
para ninguém a ouvir.
Até me deixar em casa cuidámos
do silêncio um do outro, num acerto
de sinais – ok, claro, fica bem –
quando qualquer outra coisa seria
sempre pior.
“Encontrar o amor e já não ter nada
para lhe dar…”, disse-me ao telefone
dias depois. Contei até dez, repeti o nome
dela algumas vezes sem a encontrar
em qualquer das entoações, pedi desculpa
e ela desligou… bip… bip… bip… bip…
o livro e se abriu a violência real,
numa gramática que para mim ficou
impossível. Não sei se ela deu por isso,
mas veio-me com pequenos apontamentos,
a raiz de algum esquema feliz…
A luz ia-se despenhando ilicitamente
e nós parecíamos putos, os dedos
tremiam-me tanto que só depois de três, quatro
tentativas tínhamos um charro com que
chutar para os olhos a cor que ao fim da tarde
sangrava docemente por ali.
Voltou a não ser preciso muito,
com as cervejas que fui buscar, a areia
e os barcos que estavam e não estavam
onde os punhamos. Até houve horizonte
suficiente, mas só muito mais tarde
descreveríamos esse como
um momento de necessária beleza.
Assim, a dois, entregues a uma lisa
hipótese de esquecermos tudo a meio
da semana, bem ao alcance de palavras vazias,
uma conversa sem vertigens, dessas
onde a voz trepida e parece estar
para se acabar. Deu-me para o entusiasmo,
larguei um verso do Manso adaptado a elogio
e ela abriu para o meu preferido,
um sorriso obsceno e de lento desenho,
esperando-me como fazia muito
nos meus dezassete anos.
Mesmo que nunca o ouvisse dela,
era quem mais me lembrava que no fim
o corpo é só o que há,
e fica (ainda) quando vamos e voltamos
desse buraco a que chamamos alma.
Então, sem razões que pudessem com aquilo,
lá nos somámos e subtraímos, as mãos
escuras como as piores
horas do dia e o primeiro beijo
foi um erro, como o segundo. Do resto
não vou falar.
De volta a tudo, ao tempo, ao mundo,
umas frases roucas em espanhol
que vínhamos a ouvir no carro e a noite,
como a queríamos, cantando baixinho
para ninguém a ouvir.
Até me deixar em casa cuidámos
do silêncio um do outro, num acerto
de sinais – ok, claro, fica bem –
quando qualquer outra coisa seria
sempre pior.
“Encontrar o amor e já não ter nada
para lhe dar…”, disse-me ao telefone
dias depois. Contei até dez, repeti o nome
dela algumas vezes sem a encontrar
em qualquer das entoações, pedi desculpa
e ela desligou… bip… bip… bip… bip…
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