sexta-feira, janeiro 02, 2009

Vendi-lhes escorpiões ao longo de trinta e oito milhas.
Paul Bowles

Muitas mãos multiplicaram os meus terrores
ao longo dos espelhos

para que eu acreditasse ser livre
três cicatrizes
morderam-me a mão junto a um braço de sede
não
me recordo já
como se convertem
os corpos em espelhos convexos
e quais são as seis palavras mágicas que podem estancar
o sangue e conjurar a ferida

muitas mãos tactearam
os meus medos ao longo dos espelhos

um pequeno capitão com o seu pequeno ginete
e com a sua tímida lança saqueou a planície
desenhada no teu horizonte e trespassou
o vulto que respirava ao fundo da paisagem
vi-o cair dezasseis vezes ao longo dos muros
inscritos na escuridão
de três noites e escutei os seus gritos
outras tantas vezes

muitos espelhos multiplicaram as minhas mãos
ao longo das planícies

as minhas mãos que esmurraram de sede a água
ao longo das miragens dos quarenta e oito
espelhos dispersos pelo deserto

muitas agonias vieram e quebraram
os espelhos dispersando o teu rosto

e a minha vontade
inteira
em todas as direcções
e a minha mão esqueceu-te
apodrecendo
a minha mão direita
imóvel como a sede
nem tudo se perdeu
a vingança veio depois
no grande deserto atravessado
e muitas vezes nos olhares eclipsados de água

Paul Bowles disse-a por mim ao escrever que

variatio in: persona

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