Manuel de Freitas
A sua linguagem move-se
No espaço azul parado deste céu de Inverno
Branco e indolente de nuvens.
Todos estes seres domesticados, velozes, parecem contactar
Entre si enquanto fogem. Não sabem
Reproduzir-se.
Entender a sua fala, a sua música atónita
Não é para os amantes da paisagem
Que gostam de escutar nos livros o pranto dos salgueiros
E o diálogo dos pinheiros barítonos
Com a boca de um horizonte contraído
Em contralto.
Mas há quem saiba ouvir os seus segredos vivos
No ácido rumor das combustões.
Ler como em pauta metálica as incendiadas
Correntes que percorrem
Todos os sentidos numa convulsão
De sons sanguinolentos
Tão banais e trágicos, tão explosivos,
Como este belo e cantabile mundo,
Teimoso em ladrar-nos à vista e aos ouvidos,
Mas que percorremos sentados numa plateia volúvel,
Acotovelando a morte, amável,
Confortavelmente.
- Armando Silva Carvalho
O Amante Japonês, Assírio & Alvim, 2008
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