
o que eu não sei dizer é mais fácil
do que a âncora desenhada a giz no chão
o xis marca de qualquer forma o lugar
e eu tenho definitivamente algum talento
para chegar tarde à perdição
o que eu não sei dizer
é essa tua rua apinhada de gente
onde eu não posso ir
nunca pude ir
mas posso continuar a saltitar
de página em página
fazer-te acreditar na omnipresença e omnisentença
do corpo
até que alguma destas minhas sete mãos
destas circunstâncias
sete páginas de gelo
num caderno
toque a tua cintura
a desenhe contra o escuro inteira
até que a minha alegria da tua última sétima existência
até que a minha última dança à chuva
até que a minha última doce morte antes do internamento
compulsivo
fenda as páginas e fenda o escuro
e teremos inventado então
o princípio da liberdade
ou isso ou pelo menos estaremos
multiplicados de perfil em todos os espelhos
à falta de não podermos fazer filhos faremos espelhos
(a cópula como os espelhos aumenta os homens,
disse borges parafraseando alguém)
mãos de vidros em que içaremos
pequenas cordas que fabricámos
a partir de papel de parede
arrancado das fibras do nosso coração cabeça e estômago
para nos ligarmos um ao outro e
prosseguiremos esta nossa favorável comunicação
feita de pavor e de uma clara alegria
porque depois não haverá mais nada
além desse um precipício de perfil
que estas sete palavras de terra escavam
já escavaram
a música só serve já para nos matar
uma sede de corpo
longe assim o fio já estendido sobre o abismo
é uma pausa sobre o abismo
estremece sobre uma brisa leve
será mais fácil depois das palavras
falar da mão escura da solidão
de como em todas as páginas deste caderno
pude e não pude desenhar a alegria breve
que a tua sombra me traz
do que a âncora desenhada a giz no chão
o xis marca de qualquer forma o lugar
e eu tenho definitivamente algum talento
para chegar tarde à perdição
o que eu não sei dizer
é essa tua rua apinhada de gente
onde eu não posso ir
nunca pude ir
mas posso continuar a saltitar
de página em página
fazer-te acreditar na omnipresença e omnisentença
do corpo
até que alguma destas minhas sete mãos
destas circunstâncias
sete páginas de gelo
num caderno
toque a tua cintura
a desenhe contra o escuro inteira
até que a minha alegria da tua última sétima existência
até que a minha última dança à chuva
até que a minha última doce morte antes do internamento
compulsivo
fenda as páginas e fenda o escuro
e teremos inventado então
o princípio da liberdade
ou isso ou pelo menos estaremos
multiplicados de perfil em todos os espelhos
à falta de não podermos fazer filhos faremos espelhos
(a cópula como os espelhos aumenta os homens,
disse borges parafraseando alguém)
mãos de vidros em que içaremos
pequenas cordas que fabricámos
a partir de papel de parede
arrancado das fibras do nosso coração cabeça e estômago
para nos ligarmos um ao outro e
prosseguiremos esta nossa favorável comunicação
feita de pavor e de uma clara alegria
porque depois não haverá mais nada
além desse um precipício de perfil
que estas sete palavras de terra escavam
já escavaram
a música só serve já para nos matar
uma sede de corpo
longe assim o fio já estendido sobre o abismo
é uma pausa sobre o abismo
estremece sobre uma brisa leve
será mais fácil depois das palavras
falar da mão escura da solidão
de como em todas as páginas deste caderno
pude e não pude desenhar a alegria breve
que a tua sombra me traz
Fotografia de Robert Doisneau
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