terça-feira, dezembro 23, 2008

Uma criança é azul dentro do nome. Alimenta-se de flores e varandas ocupadas pela memória da mãe. Durante a refeição dão-lhe temas para se entediar no quarto, ou suicidar-se nos jardins da infância.
A terra queda-se em muda homenagem, e as ruas movem-se para um lugar de espaços verdes e imaginações frenéticas.
A água corre. Tudo dá flor nos objectos sangrentos. A casa inteira dedica-se à suprema tortura das aulas. –
A criança é um incêndio atrás do prato de sopa.
Fecha-se no quarto e apercebe-se que está nua. Descobre estupefacta o sexo, que o espelho devolve com insistência. O quarto é uma flor venenosa, onde a criança se masturba, atónita.
Depois abre a janela e canta:
cantará assim pela vida fora, à janela, como um crime cheio de ternura.

- Jorge Fallorca

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