terça-feira, dezembro 30, 2008

Quando tinha nove anos não vi crescer um feijoeiro no meu copo de iogurte. Anos depois, visitou-me o fatalismo das borbulhas e, recentemente, todos os casacos deixaram de me servir. Então, habituei-me ao frio que não combati com os ossos do peito. Perdi dedos nas granadas do coração porque não tive guerras onde fossem úteis. Comprei chapas impessoais numa loja de acessórios mas nunca matei um homem: acabo-os enquanto ainda são crianças plantando feijoeiros com uma alegria medonha. As minhas mãos ainda são muito brancas.
Estou muito pobre: já não tenho sequer um pouco de loucura ou sangue suficiente para hematomas. Acabei por desistir dos vícios que treinei durante a adolescência. Os dedos que me restam têm as pontas meio vazias: servem apenas para os prazeres custosos que permitem o cumprimento dos dias. Às vezes ainda penso na morte, mas já não penso a sério como daquela vez em que percebi o que era e fiquei com medo de dormir. Deveria ter nove anos. Mas passou. E o resto é muito simples: um corte na mão que não dói até se ver pela primeira vez e que ao tocar só arde.

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