quarta-feira, dezembro 31, 2008

Não era a chuva, amor

Se tivesses agora alguns anos menos,
um pouco mais de vergonha e não fosses
infiel ao teu passado,
hoje escreverias – chove e é dezembro –
sobre as rosas pálidas ou o fulgor de uns olhos.
Como dantes.
__________Mas mudaste muito,
demasiado talvez, em pouco tempo,
e agora apenas desejas, nas tardes de chuva,
esconder-te em tugúrios de álcool e má fama
e lançar impropérios contra os rapazitos
que esperam na rua
– como tu em dias passados, os sapatos
molhados de ternura – por uma rapariga que chegue
com o cabelo entornado como um frasco de mel
por sobre as costas.
«Ossos da beleza – escreves – que nos deixa,
incapazes agora,
o seu rastro de lembranças como justo
castigo de tanta ventura»,
e voltas ao teu copo sob um fundo
de música que soa a despedida:
a tua, desse reino a que chamam juventude.

- Pedro Sevilla

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