já em nada me incomodam as trevas
nocturnas: bastas-me tu, a minha luz.
Apuleio
nocturnas: bastas-me tu, a minha luz.
Apuleio
Psique, permanece adormecida como
se o teu leito fosse feito de crisântemos,
alheia ao ruído circular do trânsito e
ao rumor das esplanadas à beira-rio.
Dorme que nunca antes a beleza te foi
tão familiar agora que eu vi em ti aquela
luz que ainda nenhum homem tinha visto.
A nossa felicidade foi de uma cor quase
branca, comparável ao pêlo do teu gato,
que deve o nome a um poeta particularmente
pessimista para com a natureza humana.
Psique, o nosso voo foi como o país
que nunca se alcança, mesmo quando um
relâmpago atravessa as nossas bocas e,
de imediato, estremeço a respiração contra
os teus cabelos negros e húmidos, imagem
copiada desta noite que ainda mal cessou.
Longo corre o sonho no reino dos deuses
e a própria Vénus há-de lamentar nunca
ter respirado uma brancura igual.
Psique, admira em sonhos esta cidade que
paira como se nas costas lhe crescessem
asas de borboleta semelhantes às tuas.
Dorme que os teus olhos estão em mim,
estranhamente acordados, com o poder
de comover os deuses com a sua ausência.
A nossa felicidade foi de uma cor quase
branca, em contraste com o doce esvaimento
que os meus dedos recolhem nos teus
e a manhã, essa ilusão, já só a poderemos
espreitar através da fechadura dos espelhos,
onde os corpos se assemelham a outros
corpos e atravessam o caminho das estações
distantes à compreensão mecânica do tempo.
Psique, permanece adormecida.
O tempo é falso, invenção de quem nunca
quis observar a beleza desse líquido rubro
que tão delicadamente deixas
escorrer a partir do nariz.
Como amantes, respirámos uma brancura
imaculada e agora somos cabeças
mergulhadas neste líquido silencioso
tão semelhante aos sonhos.
A ideia era esta: a morte, o sono,
até a razão de preferirmos chá ao café,
todos os caprichos podem ser explicados
através duma canção pop.
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