não sei quantas manhãs
encontrarão ainda aos pés da cama
esse amarrotado recibo
do amor: a colcha
enrodilhada.
por agora
abro com força
a porta envidraçada. na pequena varanda
já a noite ferve
e as estrelas
irrompem pelo quarto, alastram
no tapete, não tarda encharcarão
este incómodo colchão que improvisaste.
ALARMES
não desenroles tanto a noite
em tua pele. não equipares ao corpo
o tropel das palavras
na toalha. não encalhes em mim
tanta beleza. aperta
a blusa. recolhe do meu rosto
os teus olhares, alguma lágrima
brilhando sobre a mesa.
sossega. é cedo ainda
para o deserto trepidante
do desejo. não julgues saber já
que desenlaces
o meu corpo procura
sobre o teu. nem eu te ofereço
o armadilhado morango
do amor. apenas peço
que adormeças,
que dês lugar na cama
ao meu fantasma.
coloca o coração
numa órbita prudente. talvez não tarde
o tempo,
o lugar onde eu te diga
as palavras que desligam
os alarmes que instalei
em toda a alma.
A UM METRO DO ABISMO
é tarde. a cabeça
no ombro já do esquecimento.
não sonhes
que exististe. a um metro
do abismo, até mesmo
aquele, junto ao mar,
breve amor de miriam
poderia, agora,
destravar-te o coração.
- Luís Miguel Queirós
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