Self improvement is masturbation.
Now, self destruction…
Às vezes e sem nenhum aviso damos
com deus ronronando, estendido sobre uns versos,
lambendo-se
e arregalando os olhos como se nos visse
brilhar. Abrimos as torneiras todas da casa
e o corpo dançante gira como um pião, ensaboado
escorregando pelo corredor com os pixies
a gritar here comes your man!
Hoje bebemos brandy pela primeira vez
e eu deixei-te sozinho por um bocado
para ir buscar os velvet underground e quando voltei
desapertavas as calças, tinhas os fios do candeeiro
descarnados nas mãos – perguntei o que fazias –
e tu com os olhos cheios
de uma inocência alucinada (que na altura me fez rir), disseste
que querias iluminar-te por dentro.
Entre alguns desfavores sexuais
persistimos, escrevemos como se não houvesse
mais nada para fazer. Temos livros em pilhas
na secretária, na mesa de cabeceira
e tantos
domingos encalhados nas veias.
Temos mesmo que ser modernos, derramar sangue
e a bulimia nervosa
das nossas imagens movediças. Estes reflexos à espera
de um comboio, de um lugar, um verso por onde entrar
no poema e na história. A linha
nunca mais acaba,
mas nós também não temos onde ficar.
Andamos à pendura em carros de bois
e eléctricos, no lugar do morto
ao lado de camionistas que leram como nós
os piores versos dos três mosqueteiros
da actual poesia portuguesa, preferindo-os
a qualquer promessa de libertação e mesmo
à invenção por via lírica da própria beleza.
Lembras-te daquele dia
depois da sessão de autógrafos na Borders de Sherman Oaks
quando o Palahniuk tirou um macaco do nariz
e o colou a uma estante, lembras-te que tiraste o teu lenço
e o guardaste? Desde aí fiquei a pensar que somos mesmo
umas vítimas tristes das nossas paixões, uma geração de fãs
entre a sala de cinema
e bares com happy hours, essas horas de desgraçados
onde mais depressa se vai chegando
à sensação de estarmos bem longe de casa.
Mas nunca vais muito longe e mesmo
existes assim, muito só ou acompanhado
tomando conta de ti próprio.
Hoje tudo é tão perto, tão estupidamente próximo
do enjoo. E é já um dado adquirido –
num futuro não muito distante
a poesia vai estar nas lonas, rastejando,
reduzida a autocolantes, vendida em parafarmácias
junto com anti-depressivos, antologiada
entre etiquetas, por dilúvios sentimentais
em livrinhos de citações, pequenas latas de música
e os pacotes especiais no dia dos namorados.
Imagina só as possibilidades: preservativos
com versos do Rilke, encantações do Rimbaud
ou o lirismo do Hölderlin para embalar-te o tesão
na força e no espírito da Grécia antiga. Que quecas épicas
se vão dar!
Por agora temos que nos contentar com caixas
de chocolates ou as flores carnívoras que embrulhamos
em papel de celofane e entregamos às amadas
antes de as comermos por trás.
Não quero parecer optimista,
mas acho que as coisas só podem piorar.
Se o Herberto pôde traduzir literatura
farmacológica, nós havemos de traduzir manuais
de gadgets mais inteligentes que nós.
Imagina só as possibilidades…
O futuro vem aí! Até lá
é claro que os mais inspirados
se vão extinguindo prematuramente. Fumadores ou não,
acontece-lhes naturalmente,
mais ou menos quando a vida
inspira neles a morte.
3 comentários:
o hh deve andar engasgado por aí, presunção minha, também as tenho.
Grande poema, melhor só comprado!
O rumo é esse, sem dó nem piedade, como quem aceita uma bandeja vazia e aprende a emoldurar a beleza caótica do mundo. Será uma questão de necessidade?
A poesia serve-se fria em bandeja vazia, como quando erguemos ao sol
os braços em V e ele não dá conta da
ameaça.
V de Vendetta
DGV de poeta
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