domingo, fevereiro 10, 2008

Todos nós merecemos morrer. Sim, também tu, meu amor. Não te deixes chocar que isto que te digo não é uma moral, um conto, uma mensagem, não é um lema:
são palavras
encadeadas - desencadeadas
pela vida.
A morte, merecêmo-la, não uns mais do que outros. Embora penses que alguns a merecem menos, é-lhes devida pela mesma quantia. É devida por motivos diversos, alheios a todos que não o seu dono, que os guarda no seu cheiro até que o cão negro o fareje e o abocanhe finalmente. É-lhes de sua justiça a morte, uns talvez por infames crueldades que em si nasceram e outros por carregarem a dor causada pela bala que lhes foi dirigida a romper o peito. Ou por outras razões que possas palpitar.
Merecêmo-la precisamente no grande dia em que chegar, seja pela mão de quem for, o humano culpado ou a natureza inocente (pela própria mão mas não tem a mesma glória.)
Sim, meu amor, é isto que te digo: a vida uma prosa biográfica que sabe a poema e a morte um poema
uni-
versal
individual.
O único verso que fica gravado em pedra: duas datas separadas por um hífen:
o dia em que se começou a esperar - o dia em que a justiça chegou.
Entre eles, um banco de jardim.

Sem comentários: