o monstro acorda-me tocando ao de leve
a superfície de isolações que é a pele e
todos os rastros de identidades onde me apago
com um pau espicaça-me
e espreita para perceber se ainda respiro
respiro
vivo de leite e sangue reunindo os corpos de pequenos animais
tirando apontamentos sobre as formas da imobilidade e do silêncio
decorando as minhas passagens preferidas das obras
que o tempo não tem entusiasmo para queimar
faço pouco mais que imaginar
invento infantários assombrados
pelas minhas principais influências suicidárias
coço-me toda a noite enquanto deliro em frente à lua
uivo, demarco a territorialidade das minhas ânsias
desenho as minhas linhas de fuga e sobrevivo
lobisomem doente, criança feérica, sou o último da minha espécie
e às vezes amo uma mulher
onde estás?
pergunto-me
que horas serão para ti quando me contaminar
a morte, passando com o seu candeeiro de petróleo
pelos subúrbios onde se entrincheirou este corpo de cinzas
que assumo como um vício, como um hábito, a aparência
de quem está nos lugares por onde passa
sem fazer parte de nada
e parte de nada
constantemente
Sem comentários:
Enviar um comentário