É um estilete de luz
a imensidade de que és feita
e contorna um azul-sonho-neve
igual aos cabelos que descobri a saírem da tua boca
- dos teus olhos de imaginação
- dos teus lábios curvos de aurora.
Saímos
enquanto as pessoas olhavam admiradas o Arco do Triunfo
deixando escorrer dos bolsos fitas e serpentinas
para tudo se passar como no pássaro
para deixar objectivamente escrito
nas margens do rio
do Mar
- o continente submerso
- o navio de todos os amantes
por onde rola a carruagem em que viajamos
pintada de Liberdade e de Poesia
contigo a dormir sobre o meu peito.
POR ISSO EU SENTI SER FÁCIL O SUICÍDIO
FÁCIL E POSSÍVEL.
Fixou-se no muro da tua residência
sobre a porta que se abre ao visitante
um símbolo mágico e de cabala
- a oportunidade do meu regresso
- a história maravilhosa que te direi na viagem.
Procurei
nas folhas espalhadas pelo nosso leito
a recordação do que há-de vir
- apenas no esparso
- no diverso
- no acto simultâneo de defesa
- no viajar de aeróstato incógnito de distância
- na noite mágica
NA PRIMEIRA GRANDE NOITE MÁGICA QUE NÓS
TIVEMOS.
Abriu-se a janela que caminhava sozinha
e saiu um sonho simples de criança:
O METEORO DA TRANSFORMAÇÃO
pousado a um canto o meu Jogo de Cabala
(um montinho de quadrados,
de círculos, de triângulos,
dispostos geometricamente
sobre um tabuleiro grande)
o meu Tratado de Magia Humana
(um caminho de ogivas, um
relógio a dar horas sobre
um túmulo em pé, os postes
magnéticos, os cordões da angústia)
FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espon-
tânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as
sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias lado a
lado: -
Ao aparecer a mulher escandalosamente
vestida de vermelho
ele dirige-se para a jovem
e os outros passeiam sobre as rochas
onde fica oculto o corpo do homem que chega continuamente
MUDO APONTA O HORIZONTE.
- António Maria Lisboa
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