«A velha Sedes (com gente nova) veio agora anunciar [...] que Portugal está na iminência de “uma crise social de contornos difíceis de prever”. O prestígio e o peso de quem fala merece, em princípio, que se ignorem as preocupações do dia-a-dia, para ouvir e pensar. Em que funda a Sedes [...] um aviso tão melodramático e severo? Em essência, na “degradação da confiança”. O país deixou de acreditar no “sistema político” e, em particular, nos partidos, de direita ou de esquerda, e esse crescente cepticismo ou, se preferirem, esse quase universal cinismo poderá levar ao rápido fracasso da democracia representativa. Ou, pelos menos, de uma democracia representativa, por assim dizer, “normal”. [...] O remédio da Sedes para este desastre é, como se esperaria, pedir aos partidos que promovam uma “elite de serviço” e se coíbam de interferir abusivamente na vida do país. Nunca com certeza a preveniram que as meninas não reformam o bordel. Como nunca com certeza lhe explicaram que andam por aí há anos “derivas populistas, caciquistas, personalistas”, para qualquer gosto ou vício. No fundo, os senhores da Sedes não percebem que nenhuma “crise social” (que fazem eles senão descrever sem grande originalidade a que neste momento vivemos?) põe em perigo o suave arranjo da política portuguesa, enquanto Portugal pertencer à “Europa”: e os partidos sabem isso muito bem. O destino de Portugal é, como sempre foi, apodrecer ao sol.»
- Vasco Pulido Valente
citado por Eduardo Pitta em Da Literatura
sábado, fevereiro 23, 2008
Apodrecer ao Sol
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