é o regresso ao sonho com asas contra
a máquina e o medo sobre os taludes a boca
que sorriu todas as noites
e cuspia o sangue dos pássaros de ontem
desprendem-se reflexos originais na chuva miúda
retratos da face que o céu nunca mostra
e ao longe ecoa a agitação violenta do fio-de-prumo
gaivotas pousam sobre as secretárias e as gavetas
reabrem por si mesmas revelam
fragmentos das mãos e da vista cartas de navegação
manuais com descrições sobre o que fica para lá
da cartografia das cidades para lá
das celas em movimento do plano deste record
pensado para a parte fria do animal
em frente e à direita enchem-se as íngremes escarpas
pelo movimento evasivo a diáspora dos rebanhos
e no desenho litoral parte de novo
um barco a remos exigindo a rendição do atlântico
para trás ficam as vigílias a insónia carregada de faltas justificadas
ficam os últimos corpos para apagarem as luzes à noite
fica no Tejo um cargueiro para avisar fantasmas retornados
fica a silente respiração da quimera
a estrutura abandonada
cinzas de uma civilização que teria sido um dia
como um novelo
no colo de uma velhinha costurando outra camisola para ninguém
para si mesma sentada na sua cadeira de balanços
____________________________________________à espera
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