com uma desilusão
e com um cansaço mortal
daquela gente banal
que enchia o café
Maria do Carmo Abecassis
Percorro de noite uma grande rua, quase deserta, da cidade.
Lembro-me de ainda hoje dizer a alguém que queria partir para um sítio completamente diferente com pessoas totalmente estranhas, onde se passassem apenas coisas extraordinárias.
Vejo sempre as mesmas pessoas nas caras que nunca vi. Um polícia na rua, um sem-abrigo na sua cama de cartão, um vendedor de rosas que cospe no chão como gesto final da sua noite. Um bar novo mas familiar, um filme que parece que já vi, os passos dos mesmos sapatos na calçada. Todas estas coisas ordinárias de que fujo no meu carro, gostava de ter um dia saudades delas.
Refugio-me no silêncio. Num restaurante algures as conversas sempre iguais e aparentemente parvas das pessoas acumulam-se umas por cima das outras tornando qualquer uma imperceptível. Que assim seja ou ninguém conseguiria comer. E depois de um longo banho de silêncio vou ao restaurante saborear um bom prato de barulheira.
Se eu realmente partisse talvez estivesse bem no meu novo lugar mas também talvez só assim, ao voltar a esta rua, sentisse com a força com que deve ser sentida a emoção de estar entre o vulgar.
Sim, eu agora fujo mas sei que voltarei aqui.
Lembro-me de ainda hoje dizer a alguém que queria partir para um sítio completamente diferente com pessoas totalmente estranhas, onde se passassem apenas coisas extraordinárias.
Vejo sempre as mesmas pessoas nas caras que nunca vi. Um polícia na rua, um sem-abrigo na sua cama de cartão, um vendedor de rosas que cospe no chão como gesto final da sua noite. Um bar novo mas familiar, um filme que parece que já vi, os passos dos mesmos sapatos na calçada. Todas estas coisas ordinárias de que fujo no meu carro, gostava de ter um dia saudades delas.
Refugio-me no silêncio. Num restaurante algures as conversas sempre iguais e aparentemente parvas das pessoas acumulam-se umas por cima das outras tornando qualquer uma imperceptível. Que assim seja ou ninguém conseguiria comer. E depois de um longo banho de silêncio vou ao restaurante saborear um bom prato de barulheira.
Se eu realmente partisse talvez estivesse bem no meu novo lugar mas também talvez só assim, ao voltar a esta rua, sentisse com a força com que deve ser sentida a emoção de estar entre o vulgar.
Sim, eu agora fujo mas sei que voltarei aqui.

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