sábado, janeiro 12, 2008

esquivos

um bisturi rasga as pálpebras da noite
cortando a travessia do sono
regressam aos seus escombros
as criaturas passionais que insistem nas digressões nocturnas
entre bares, cafés, os lugares mais esquivos
antros onde se comunga uma certa desesperança
e se interdita a passagem aos invasivos olhares
prenhes de jurisdições intelectuais
nestes redutos ainda é possível enfrentar
os olhos negros da vida sem medo
o escuro é o que é, escuro
sem nada a acrescentar

luzes amarelas resistem, são o sustento
das deambulações ébrias que encerram este acto
antes das peripécias de um novo dia (e "novo" aqui
é o mesmo que "velho", uma mera figura de expressão)
um astro faz-nos rodar à sua volta, hipnotizando-nos
agitando-nos o sangue nos corpos
entontecidos bailamos ao som da música dos dias
mas certas noites o álcool desperta-nos, faz-nos ver o mundo a rodar
como ele roda e a ressaca liberta a nossa sensação de enjoo
o enfado e as náuseas com que nos vemos envolvidos
neste elíptico movimento com nenhum sentido
aqui estamos encostados uns nos outros
neste calhau perdido, às voltas, sem destino

a mais natural de todas as nossas inclinações
não podia assim deixar de ser aquela
que nos faz tender para a morte

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