Pinto pássaros na parede e eles
saem a voar-me pela casa. Loucos.
Faço uma linha, ela engrossa,
reverdece, solta-se da planura
e cresce raízes procurando o chão.
Uma árvore oferecendo os galhos
para os pássaros se aquietarem.
Desenho um coração que se acende
como um artificial fogo alastrando
pelas artérias que proferem o teu nome
entre os lugares onde a tua ausência
mais se nota. Apresso-me, apanho
a tua fotografia e ao levantar a mão
ansiosa por pintar o teu rosto, faz-se
de vidro esta superfície. Do outro lado
tu, e alguém como tu, como eu não fui
e leio-te nos lábios as palavras
que talvez nunca tenhas querido
dizer-me. Ele envolve-te perfeitamente.
Com uma lágrima tento pôr nisto
um ponto final, mas desse sinal
desponta uma fissura, um fio de água
que racha o vidro, em fúria, cospe um rio
que inunda as divisões, uma a uma.
E no meio disto, estou eu a afogar.
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