finalmente a sul, no espírito eterno das coisas, não falta tempo
há corações plantados no quintal onde também crescem
as nespereiras, as amendoeiras e um velho limoeiro que já regride,
no alpendre uma reforma tardia antecipa a vida depois da morte
jogando cartas e pensamentos sem ancoradouro, numa paciência desfocada,
há toda uma estação em reeducação que sustenta a invariabilidade
do mundo, por aqui vão-se os ciclos, entre a luz e o escuro,
da folha à flor, surge por fim o fruto e Deus continua a aparecer todos os dias
sem ter hora marcada, não em figuras angelicais com revelações
cheias de um significado que contraria tudo o que se pensou até ali
mas na sobriedade simples dos detalhes. um refresco, a companhia ocasional
de um gato que interrompe as suas rondas, a vida breve e fulgurante
interpretada numa versão musical e desempenhada pelos pardais,
mais que tudo o conforto de não existirem traços, números ou capítulos
para definir quando era ontem ou quando já será amanhã, hoje
apenas um poema contínuo onde só caem palavras como cai tudo o resto, certas,
amadurecidas, distribuídas pelo vento entre as isenções onde começa o esquecimento
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